Hoje em dia, apensar da inclusão estar na moda, ainda tem muitos que desconhecem qual era a realidade das pessoas com deficiências até poucos anos atrás! Conheça 10 fatos intrigantes da história da educação especial que merecem ser lembrados.
1º – O Extermínio de Pessoas com Deficiência na antiguidade
Tribos indíginas, como os Esquimós, além de grandes civilizações como os Gregos antigos, ou os Espartanos, matavam as pessoas com deficiencias assim que essas nasciam. Essa prática era realizada, sem ódio, normalmente, conforme a organização sócio-cultural da época.
Segundo Sêneca (Lucius Annaeus Sêneca – 4 A.C. a 65 D.C.) , devemos fazer tudo o que precisamos fazer com naturalidade, eliminando da obrigação o aspecto ódio. E ele cita alguns exemplos que eram bastante óbvios para os romanos daquela época:
“Eliminai, então, do número dos vivos a todo o culpado que ultrapasse os limites dos demais, terminai com seus crimes do único modo viável… mas fazei-o sem ódio”… “Não se sente ira contra um membro gangrenado que se manda amputar; não o cortamos por ressentimento, pois, trata-se de um rigor salutar. Matam-se os cães que estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas. Matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos. Se nascerem defeituosos ou monstruosos, afogamo-los. Não é devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis”.
(…portentosos fetus extinguimus, líberos quoque; si debilis monstrosique editi sunt, mergimus; nec ira, sed ratio est, a sanis inutilia secernere – “De Ira”, de Sêneca).
2º – A inclusão social das pessoas com deficiências no Egito Antigo
O povo Egípcio buscava o desenvolvimento espiritual através da tradição de ensinamentos. Neste sentido, existia um documento chamado “Instruções de Amenemope”, que era tido como um código de conduta moral egípcio e que determinava que anões e deficientes em geral fossem respeitados: “Não faça gozações de um homem cego nem caçoe de um anão, nem interfira com a condição de um aleijado. Não insulte um homem que está na mão de Deus, nem desaprove se ele erra.” (KOZMA et al, 2011).
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3º – Do extermínio à exclusão social – Idade Média
Pessoas doentes, defeituosas e/ou mentalmente afetadas (provavelmente deficientes físicos, sensoriais e mentais), em função da assunção das ideias cristãs, não mais podiam ser exterminadas, já que também eram criaturas de Deus. Assim, eram aparentemente ignoradas à própria sorte, dependendo, para sua sobrevivência, da boa vontade e caridade humana. Da mesma forma que na Antiguidade, alguns continuavam a ser “aproveitados” como fonte de diversão, como bobos da corte, como material de exposição, etc.
4º – Os Surdos não podiam casar e acreditava-se que não tinham alma imortal, no início da idade média.
A situação do surdo na Idade média não era muito diferente da existente na época clássica. Acreditava-se que a alma dos surdos não era imortal já que não conseguiam dizer os sacramentos e até ao século XI estavam impedidos de casar. Segundo Santo Agostinho (354-430 d.C) aqueles que tinham filhos surdos estavam a pagar pelos seus pecados. No entanto, é ainda na Idade Média (em 700 a.C.) que surge a primeira tentativa de ensinar um surdo a falar – educação especial para surdos. Este episódio passou-se com o Arcebispo de York, John Beverley que ensinou um surdo a falar contrariando as ideias de Aristóteles.
5º – Os deficientes mentais são considerados seres diabólicos – o predomínio da concepção metafísica da deficiencia na Reforma Protestante
Durante o período da Reforma Protestante, considerada ‘época dos açoites e das algemas’ na história da deficiência mental. O homem é o próprio mal, quando lhe falece a razão ou lhe falte a graça celeste a iluminar-lhe o intelecto: assim, dementes e amentes são, em essência, seres diabólicos.” (Pessotti, 1984, p. 12). Assim, constata-se que, conquanto na Antigüidade a pessoa diferente não era sequer considerada ser humano, no período medieval, a concepção de deficiência passou a ser metafísica, de natureza religiosa, sendo a pessoa com deficiência considerada ora demoníaca, ora possuída pelo demônio, ora “expiador de culpas alheias, ou um aplacador da cólera divina a receber, em lugar da aldeia, a vingança celeste, como um para-raios…” (Pessotti, 1984, p.5-6).
6º – As instituições de confinamento para deficientes surgem como “serviço social”.
é a partir do fim do século XIII que a prática da caridade se torna uma espécie de “serviço social local” para o qual colaboram todas as instâncias responsáveis pelo “bom governo” da cidade. Dentre tais instâncias encontra-se a Igreja – não propriamente em função da religião, como seria de se esperar, mas pelo fato de que as autoridades religiosas (o bispo, o cônego, por exemplo) teriam as mesmas responsabilidades das autoridades leigas (senhores notáveis e burgueses).
A prática assistencial está diretamente relacionada ao surgimento das instituições de confinamento. Nesse modelo de intervenção o atendimento aos carentes constitui objeto de práticas especializadas. Assim surgem diferentes equipamentos sociais – tais como hospitais, asilos, orfanatos, hospícios – que oferecerão atendimento especializado a certas categorias da população que outrora eram assumidos, sem mediação, pelas comunidades.
7º – A deficiência começa a se desvincular das superstições
As primeiras reações contra a idéia de que a deficiência era ligada ao demônio partiram dos médicos Paracelso e Cardano que consideravam a deficiência como problema médico e digno de tratamento e complacência. O saber médico sobre a deficiência começa a ser produzido e para Cardano e Paracelso os deficientes poderiam ser treinados e tinham direito a essa educação. A importância de Paracelso está em sua obra Sobre as Doenças que Privam os Homens da Razão, escrita em 1526, mas somente publicada em 1567, após sua morte. A obra traz, pela primeira vez, uma autoridade reconhecida da medicina fazendo a consideração médica de um problema que, até então, era tratado como teológico e moral.
8º – Jean Itard – O pai da Educação Especial
No século XIX na França, Jean Itard elaborou o primeiro programa sistemático de educação especial, sendo assim considerado o pai da Educação Especial. A primeira experiência realizada por ele foi em 1800, quando investiu na tentativa de recuperação e educabilidade de Victor de Aveyron, ‘o menino selvagem’ (uma criança encontrada na floresta, vivendo como um animal, sem conhecer qualquer forma de comunicação). Foi uma das primeiras tentativas de educar e modificar o potencial cognitivo de uma criança ‘diferente’.
As metas pedagógicas de Itard
1. Interesse pela vida social.
2. Despertar a sensibilidade nervosa.
3. Ampliar esfera de idéias.
4. Levar ao uso da fala.
5. Exercitar operações da mente.
Em 1970, o cineasta francês François Truffaut realizou, a partir dos relatórios do médico Jean-Marc Itard, um filme intitulado O Garoto Selvagem (L’Enfant Sauvage), disponível gratuitamente em https://www.youtube.com/watch?v=K6GZPuxuBTU
9º – A roda dos expostos – O Extermínio de deficientes no Brasil no século XVII.
A história da Educação Especial no Brasil foi determinada, pelo menos até o final do século XIX, pelos costumes e informações vindas da Europa. O abandono de crianças com deficiências nas ruas, portas de conventos e igrejas era comum no século XVII, que acabavam sendo devoradas por cães ou acabavam morrendo de frio, fome ou sede. A criação da “roda de expostos” em Salvador e Rio de Janeiro, no início do século XVIII e, em São Paulo, no início do século XIX, deu início a institucionalização dessas crianças que eram cuidadas por religiosas.
10º – A primeira instituição para atendimento às pessoas com deficiência mental – ao invés da morte, o acolhimento.
O Hospital Juliano Moreira em Salvador, Bahia, fundado em 1874 é considerado como a primeira instituição para atendimento às pessoas com deficiência mental.
A influência da Medicina na educação destas pessoas perdurou até por volta de 1930. Atrelada aos pressupostos higienistas da época, o serviço de saúde do governo orientava o povo para comportamentos de higiene e saúde nas residências e nas escolas. Dentro desse princípio, a deficiência mental foi considerada problema de saúde pública e foi, então, criado o Pavilhão Bourneville, em 1903, no Rio de Janeiro, como a primeira Escola Especial para Crianças Anormais. Mais tarde, foi construído um pavilhão para crianças no Hospício de Juquery. A Medicina foi sendo gradualmente substituída pela Psicologia e a Pedagogia. Agora não mais mortos ou abandonados, mas institucionalizados.
Entretanto, tais iniciativas aconteciam nos grandes centros. No geral, as crianças com deficiências deficiências continuavam sendo cuidadas em casa ou institucionalizadas.
Interessante não né? Você já conhecia todos esses fatos? Sabe de algo mais para acrescentar? Faça seu comentário aqui nesse post e compartilhe seu conhecimento!
Boa tarde,
Juliano, qual a fonte da décima curiosidade?
Desculpa, Leandro.