Analfabetismo do 6º ao 9º ano. Como a Educação Especial e o AEE podem ajudar?

São inúmeros os casos de alunos público alvo da educação especial que estão nos anos finais do ensino fundamental ou ensino médio e ainda não estão alfabetizados.

Recebo essa pergunta frequentemente: “Leandro, a maioria dos estudantes que atendo no AEE estão no Fundamental II e não estão alfabetizados! Como devo agir?”

Pois bem, a resposta parece complicada, mas não é.

R: Vamos alfabetizar esse aluno!

Eu sou uma daquelas pessoas que acredita que todos podem aprender. Ou seja, eu acredito que seu aluno possa ser alfabetizado, independente do diagnóstico, da deficiência ou do quadro atual dele.

Ambicioso? Talvez. Insistir no aprendizado do seu aluno pode ser um processo longo, demorado e solitário, mas existe uma luz no fim do túnel, basta continuar caminhando na direção certa.

Bom, se você está aqui é porque acredita que algo pode ser feito. Então vamos caminhar.

Mas qual a direção certa?

Eu vejo 2 possíveis cenários que levaram o aluno à situação atual:

Primeiro: meu aluno possui atraso no desenvolvimento e não teve estimulação precoce adequada na educação infantil.

Segundo: meu aluno não teve acesso a aulas de alfabetização tempo suficiente, utilizando estratégias adequadas.

Agora vamos entender o que fazer em cada um deles.

Primeiro cenário: quando meu aluno possui atraso no desenvolvimento

No primeiro cenário, é preciso identificar se o aluno possui atraso no desenvolvimento, independente da idade dele. Eu recomendo utilizar o Inventário Portage Operacionalizado para fazer isso.

Ensino como usar esse inventário no meu e-book Como Adaptar Atividades para alunos com Deficiência.

Uma vez aplicado o Portage corretamente, você saberá exatamente o quanto de atraso no desenvolvimento seu aluno possui, se é que ele possui algum atraso.

Identificado o atraso, não há o que ser feito a não ser estimular o desenvolvimento global para suprir esse atraso. Para isso coloque no planejamento do AEE trabalhar as habilidades que estão dentro do Portage mas que o aluno ainda não alcançou.

Você irá constatar que ao estimular as habilidades certas para o quadro atual do seu aluno, ele se desenvolverá mais rapidamente.

Ao atingir o desenvolvimento esperado, seu aluno estará pronto para iniciar o processo de alfabetização.

 

Segundo cenário: meu aluno precisa de aulas de reforço

Você já deve saber que AEE não é reforço.

No Atendimento Educacional Especializado e na Sala de Recursos Multifuncionais não devemos ensinar o conteúdo das disciplinas que o aluno vê na sala de aula regular. Esse é o papel do professor da sala de aula regular.

O papel do AEE é identificar barreiras do aluno e propor adaptações e flexibilizações que quebrem essas barreiras.

O papel do professor da sala de aula regular é ensinar seu componente curricular.

Quando o aluno com deficiência apresenta dificuldades em um componente curricular específico, devemos agir como fazemos com qualquer outro aluno: aulas de reforço.

Quem deve dar essas aulas de reforço?

Não é o professor do AEE. É o professor do componente curricular que o aluno possui dificuldade. Simples assim.

Se o aluno possui dificuldades em matemática: aulas de reforço com o professor de matemática.

Se o aluno possui dificuldades em história: aulas de reforço com o professor de história.

E o papel do AEE, como fica?

O AEE acompanha o aluno onde quer que ele esteja, tanto na sala de aula regular, quanto na sala de aula de reforço.

No caso da alfabetização não é diferente. Todos os anos, muitos alunos com ou sem deficiência possuem dificuldades na alfabetização. As melhores escolas possuem aulas específicas de reforço de alfabetização para que ninguém fique para trás.

Reparou que a estratégia proposta aqui pode ser usada para qualquer componente curricular? Seja alfabetização, matemática, ciências ou geografia.

Se o aluno possui dificuldade em um componente curricular, vamos dar aulas de reforço para esse aluno.

Se o aluno possui atraso no desenvolvimento, o AEE deve estimular esse desenvolvimento antes de qualquer outra coisa. Não adianta querer ensinar o alfabeto para um aluno que não sabe conversar, por exemplo.

Lembre-se:

AEE não é reforço! Reforço só com o professor da disciplina.

Falta de estimulação precoce não é desculpa para não fazer uma estimulação tardia.

Nunca é tarde demais para ninguém!


Abraços inclusivos

 

8 thoughts on “Analfabetismo do 6º ao 9º ano. Como a Educação Especial e o AEE podem ajudar?

  1. Cibele Machado Ferreira says:

    Sou mãe de uma menina de 12 anos e ainda não está alfabetizada,minha filha é Síndrome de Down e sempre estudou na escola regular,o que a professora observou que não foi estimulada o suficiente nos anos iniciais,portanto queria uma dica , será possível minha filha ser alfabetizada?

  2. Eliude Castro Souza says:

    Se o aluno apresenta dificuldade em uma área específica o professor da sala regular ou o professor do reforço deve auxiliar esse aluno. Se o aluno apresenta alguma necessidade especial o professor do AEE acompanhará e atenderá esse aluno na sala sala de recursos.

  3. Luciana Seabra Zani says:

    Acabei de pegar uma sala de recurso , alunos na faixa etária de 14 a 16 anos, alguns sabem ler pequenas palavras, outros até conseguem interpretar pequenos textos, essa será minha primeira turma e estou muito apreensiva, o material que acho são muito infantis, não queria infantilizar as aulas.

  4. Vitor says:

    Olá meu nome é Vitor. Sei ler e escrever estudo em escola particula e estou nono ano, mas ainda não estou alfabetizado não faço uso correto da acentuação e nem das palavras, mas minha leitura é melhor que a maioria dos alunos da minha sala, mas estou com medo de ir para o colegial sem saber escrever direto

  5. Patrícia Oldenburg Ferreira Schepff says:

    Olá colegas professores! É muito bom ler e saber que existem pessoas que acreditam na educação! Vejo tanto “empurra com a barriga” que chego muitas vezes pensar que devo desistir, parabéns professor!

  6. Patrícia Oldenburg Ferreira Schepff says:

    É muito bom ler e saber que existem pessoas que acreditam na educação inclusiva! Vejo tanto “empurra com a barriga” que chego muitas vezes pensar que devo desistir, parabéns professor!

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