Olá, vou falar aqui sobre como usar o DOSVOX em sala de aula, para tornar a sua aula muito mais inclusiva com o uso dessa tecnologia assistiva totalmente gratuita e brasileira, o DOSVOX.
Estou assumindo que você seja um educador e tenha alunos cegos ou com baixa visão.
Como sabemos, geralmente as pessoas cegas são alfabetizadas com o uso do sistema braille. A alfabetização se inicia usando o reglete e o punção.
A partir da alfabetização o aluno cego, como qualquer aluno, se torna apto a explorar novos meios, como o uso do computador para facilitar e automatizar tarefas cotidianas.
Ao invés de utilizar um reglete e o punção escrever, o aluno pode utilizar um notebook com o DOSVOX. Pode utilizar, por exemplo, um teclado de computador adaptado em braille.
A seguir vou destacar várias forma de utilizar o DOSVOX em sala de aula. Como sempre acontece na educação inclusiva, não existe uma regra especifica para todas as situações, é preciso ter bom senso dosado com criatividade e muito amor.
Caderno virtual: usando o DOSVOX para registro do conteúdo curricular em tempo real na sala de aula
” Se uma criança não pode aprender da maneira que é ensinada, é melhor ensiná-la da maneira que ela pode aprender.” ( Marion Welchmann)
Imagine você entrar na sala de aula, começar e colocar conteúdo no quadro. Seu aluno cego estará em desvantagem em relação aos alunos videntes (que enxergam), pois esses podem ler e copiar todo aquele conteúdo que fica disponível ali no quadro por alguns minutos.
O domínio do DOSVOX em sala de aula possibilita ao aluno com cegueira o registro do conteúdo curricular em tempo real, permitindo assim sua participação e aprendizagem. Isso amplia as possibilidades para construção do conhecimento e minimiza a defasagem de conteúdo em relação aos demais.
Geralmente as Salas de Recurso Multifuncional (SRM) da rede pública de ensino possuem um notebook. Com o DOSVOX instalado, alunos podem ampliar o domínio da escrita e da autonomia através do computador.
Como o aluno cego irá copiar o conteúdo do quadro na sala de aula?
A cópia dos conteúdos do quadro pode ser feita da seguinte forma: a professora lê em voz alta a palavra que vai começar a escrever, de modo que, enquanto ela escreve a palavra no quadro, o aluno concomitantemente escreve no computador/notebook com DOSVOX em sala de aula. Isso acaba fazendo com que o aluno cego termine de copiar sua atividade no mesmo momento em que o professor termina de passar no quadro, ou seja, antes dos outros alunos.
Utilizar o computador para registro de conteúdo é mais rápido do que copiar em braille com uma reglete, caso a escola não possua uma máquina de escrever braille (é mais fácil um aluno cego possuir um notebook do que uma máquina de escrever braille).
Quanto à grafia das palavras, é sempre destacada oralmente pela professora quando é grafada com uma letra que possa causar dupla interpretação, e o próprio editor do DOSVOX ajuda a corrigir, a partir do momento em que o corretor ortográfico não corrige automaticamente, mas avisa com um bipe sonoro quando uma palavra possui erro ortográfico. Isso faz com que o aluna imediatamente interrogue a professora sobre a forma correta de escrever.
Avaliação Inclusiva: utilizando DOSVOX para aplicar provas em sala de aula
Aqui uma outra forma de utilizar o DOSVOX em sala de aula, mas que beneficia mais o professor do que o aluno. Você já vai entender o porque.
Durante uma avaliação, o aluno pode ler a prova impressa em braille e redigir as respostas das questões utilizando o computador com DOSVOX. A grande vantagem fica dessa vez para o professor, que vai poder ler as respostas que o aluno escreveu, pois estarão digitadas na tela do computador e não em braille. As respostas poderão ser impressas em uma impressora comum (para o professor) e também em braille (para o aluno).
A folha com as respostas do aluno pode ser impressa e colocada junto com as demais folhas de atividades dos outros alunos para posterior correção.
Para o aluno, usar o DOSVOX em sala de aula durante uma avaliação possibilita uma vantagem no tempo de escrita. Um aluno usuário do DOSVOX tende escrever mais rápido no computador do que no papel com reglete e punção.
Alfabetização através do DOSVOX em sala de aula
Calma, muita calma aqui. Embora eu seja entusiasta de tecnologia (sou programador), entendo a necessidade da alfabetização de alunos cegos através do braille.
O que vai ser proposto aqui é uma forma de alfabetização alternativa, de alunos cegos que por algum impedimento não podem aprender e utilizar o braille, como foi o caso de uma aluna no estado do Rio de Janeiro, que possui um tipo de deficiência nas mãos que a impossibilita de aprender o braille. Você pode conferir essa história incrível no artigo A inclusão de alunos cegos com o uso do DOSVOX na sala de aula do ensino regular do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, de Wagner Alves Ribeiro Maia.
O DOSVOX possibilita ao aluno considerado analfabeto por não ser capaz de ler os pontos do braille o domínio completo do computador com fins educacionais e da Internet.
O cego escrevendo para o que enxerga
O grande problema do braille é que ele restringe a comunicação apenas as pessoas cegas, visto que na grande maioria dos casos nem a família, nem os professores e nem os colegas de sala compreendem o braille (nem o mercado de trabalho em geral).
O computador se torna então uma ponte que o braille não oferecia entre a comunicação escrita do cego com pessoas videntes, ou nas palavras do professor José Antonio Borges:
[…]como a escrita Braille não era aprendida por quem não era cego, textos produzidos por eles não podiam ser lidos sem sua intermediação […]
Quando o aluno cego faz um trabalho escolar utilizando o DOSVOX, o professor comum compreende e os colegas da sala compreendem.
O DOSVOX também facilita a entrega de material didático para o aluno cego.
A maioria dos alunos cegos dependem de terceiros para a transcrição do seu material em braille e isso pode causar um atraso em relação aos demais alunos da sala de aula. Com o uso do DOSVOX, o aluno cego pode ter um material disponibilizado pelo professor comum diariamente.
O DOSVOX em sala de aula contribui para a desbrailização?
Desbrailização? Pois é, estão acusando a tecnologia de ser uma aliada da desbrailização, ou morte do braille. Isso não é verdade. Assim como a tecnologia não substitui a caneta e o papel, a tecnologia também não substitui o braille, o reglete e o punção.
Confesso que faz tempo que não escrevo com caneta e papel, mas fui alfabetizado com esses itens. Da mesma forma que temos pessoas cegas que escrevem utilizando o computador e já não fazem uso do reglete faz tempo.
O DOSVOX não é inimigo do braille. Não. Ao contrário. O DOSVOX inclusive possui recurso para impressão de textos em braille.
Pesquisadores e especialistas na área acreditam que é muito importante que o aluno cego aprenda a ler e escrever com o braille.
As professoras Raquel Luiza Gehm e Mara Cristina Fortuna da Silva afirmam que
[…]a escrita Braille, assim como a escrita em tinta para o vidente, é primordial e necessária para o processo de alfabetização dos alunos cegos. A escrita do sistema Braille realizada por dois instrumentos denominados “reglete” e “punção”, as crianças cegas, e até mesmo pessoas que perdem a visão na fase adulta, aprende a ler e escrever o sistema Braille ou código de escrita Braille.
Elas escreveram um artigo muito interessante sobre desbrailização chamado Alfabetização de Alunos Cegos: um estudo sobre pesquisas relacionadas ao processo de desbrailização
Nós defendemos a alfabetização de alunos cegos com o braille, mas recomendamos o uso das tecnologias da informação e comunicação em sala de aula.
Assista a esse vídeo sobre o uso do DOSVOX por professores de escolas estaduais
O que é DOSVOX? Como funciona o DOSVOX?
O DOSVOX é um programa gratuito que fala com o usuário de forma muito amigável, através de síntese de voz, permitindo que pessoas cegas possam utilizar o computador com independência para escrever, enviar e-mails, ler e-mails, livros, jogar, realizar cálculos e etc.
Segundo o site do projeto, o que diferencia o DOSVOX de outros sistemas voltados para uso por deficientes visuais é que no DOSVOX, a comunicação homem-máquina é muito mais simples, e leva em conta as especificidades e limitações dessas pessoas. Ao invés de simplesmente ler o que está escrito na tela, o DOSVOX estabelece um diálogo amigável, através de programas específicos e interfaces adaptativas. Isso o torna insuperável em qualidade e facilidade de uso para os usuários que vêm no computador um meio de comunicação e acesso que deve ser o mais confortável e amigável possível.
Site do projeto DOSVOX: http://intervox.nce.ufrj.br/DOSVOX/intro.htm
Programas de acessibilidade para Deficientes Visuais
Virtual Vision
O Virtual Vision é um leitor de tela desenvolvido pela MicroPower. É totalmente adaptado para o uso no sistema operacional Windows e seus aplicativos e não requer sintetizador de voz externo. O programa utiliza o Delta Talk, a tecnologia de síntese de voz que garante, segundo seu fabricante, a qualidade de áudio como o melhor sintetizador de voz em português
Jaws
Considerado atualmente o leitor de tela mais popular do mundo, o Jaws for Windows, da empresa norte-americana Freedom Scientific, possui um software de sintetizador de voz que utiliza a própria placa de som do computador.
DOSVOX
Primeiro programa de leitura de tela feito no Brasil, o DOSVOX é um sistema destinado a auxiliar a pessoa com deficiência visual a fazer uso do computador por meio de um aparelho sintetizador de voz. O sistema foi desenvolvido no Núcleo de Computação da UFRJ. É um programa totalmente gratuito de acessibilidade para deficientes visuais.
Dolphin
Este software inclui um leitor de tela para cegos e um ampliador de tela. Fabricado por Dolphin Group.
Slimware Window Bridge
Foi o primeiro programa de leitura de telas e recebeu um prêmio internacional em 1996 como contribuição importante para o desenvolvimento tecnológico. É fabricado pela Syntha-Voice Computers Inc.
Windows Eyes
Programa de leitura utilizado para facilitar o acesso à internet de pessoas com deficiência visual, tem como objetivo capturar as informações existentes na tela e transformá-las em áudio para serem enviadas em forma de som para o usuário. Fabricado pela GW Micro.
Referências
BORGES, José Antonio dos Santos. Do Braille ao DOSVOX – diferenças nas vidas dos cegos brasileiros – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2009.
GEHM. Raquel Luiza; SILVA, Mara Cristina Fortuna. Alfabetização de Alunos Cegos: um estudo sobre pesquisas relacionadas ao processo de desbrailização – Santa Catarina: UFFS
Adorei o curso, só achei que poderia ser um curso de 8 ou 10 horas. Passou muito rápido.
Olá Lilian, obrigado pelo seu comentária. Estamos pensando em fazer um curso completo sobre o tema.
Finalizei o curso gratuito mas não consigo visualizar que foi concluído. Gostaria tbm de saber sobre a entrega de certificado.
Olá Sales, por favor entre em contato com nossa secretaria pelo e-mail [email protected]