Por que a educação inclusiva não funciona?
Esqueça tudo o que você já ouviu sobre educação inclusiva agora e se prepare para um verdadeiro choque de realidade!
Já vou te adiantar que não existe essa coisa de que todos os alunos vão aprender a mesma coisa ao mesmo tempo! Isso é mentira!!!
Olá, seja bem vindo site do Instituto Itard, eu me chamo Leandro Rodrigues, sou especialista em adaptação de atividades para alunos com deficiência e acredito que TODOS PODEM APRENDER!
Sobre o direito à matrícula
Não é novidade para você que alunos com deficiência ou autismo têm direito à matrícula na escola assim como todas as outras pessoas.
Esse direito foi atualizado pela Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, conhecida como Lei Brasileira de Inclusão! Você pode baixar o e-book dessa lei aqui na descrição do vídeo.
Alunos com deficiência ou autismo são alunos com deficiência física, intelectual, auditiva, visual ou com transtorno do espectro autista.
As teorias impraticáveis da educação inclusiva
E a partir da lei acima muitos teóricos dizem como a educação inclusiva deve ser, como deve acontecer, o que seria o ideal e pintam um quadro de mundo perfeito para a educação inclusiva, que, sinceramente, não existe em nenhum local do mundo.
E isso espalhou uma série de mitos que criam falsas expectativas e afastam os professores da realidade do que deve ser feito.
Por esses e outros motivos a educação inclusiva não funciona.
Nesse artigo separei 5 mitos que podem criar falsas expectativas para você que é professor ou possui um filho com deficiência e trazer uma série de problemas!
Papel e caneta na mão e vamos lá!
MITO 1: Alguns alunos não vão aprender e estão lá só para socializar
Isso é total mentira! Vai contra tudo o que é necessário para uma educação inclusiva.
Não que socializar não seja importante, porque é importante, inclusive as atividades escolares propostas devem contemplar momentos em grupos para que os alunos possam trabalhar em equipe e desenvolver habilidades socioemocionais.
E você pode perguntar, desde quando escola é lugar para trabalhar habilidades socioemocionais?
Pois é, o fato é que sim, a escola DEVE trabalhar essas habilidades e isso está muito claro nas competências gerais da BNCC: comunicação, argumentação, autoconhecimento, empatia e cooperação.
A BNCC é a Base Nacional Comum Curricular, que é um documento de referência obrigatória para elaboração dos currículos escolares e propostas pedagógicas no Brasil, para todas as escolas, públicas e privadas.
E assim como na BNCC diz que o aluno deve “socializar”… também diz outras centenas de coisas que ele deve aprender.
E isso vale para todos os alunos!
Todos tem direito de aprender!
Mas muitos acreditam que um aluno não pode aprender porque é “deficiente demais”!
Isso é preconceito misturado com falta de informação.
A educação inclusiva não funciona assim.
Se você é professor e acredita nisso pode ter certeza que não vai conseguir ensinar esse aluno.
Acreditar que todos podem aprender é o primeiro passo para de fato conseguir ensinar a todos!
E você não precisa acreditar em mim!
Existem centenas de histórias de sucesso de pessoas com deficiência ou transtornos de aprendizado que tiveram muitas dificuldades na escola por causa de professores que não acreditavam neles, mas quando uma minoria de professores decidiu fazer a diferença, tudo mudou!
E se você acha que são casos isolados, não são!
Esse pensamento de que todos podem aprender vem desde o médico francês Jean Itard em 1800.
Encontraram um menino na mata, que se comportava como um animal, não falava, era agressivo. Conseguiram capturar o menino e o levaram à polícia, que o levou aos médicos. A medicina na época disse que o menino tinha “idiotia” e que portanto, não deveria socializar e receber instrução.
Porém, um outro médico acreditava que era possível educá-lo! Esse é o Jean Itard. Após a intervenção, o menino passou a usar o banheiro, vestir-se sozinho e dizer poucas palavras. Ele viveu até os 40 anos de idade e fez progressos.
Por isso hoje o Itard é considerado o Pai da Educação Especial, pois foi o primeiro a criar um plano de educação para a pessoa com deficiência.
E depois muitos outros acreditaram que a pessoa com deficiência pode ir muito além da sentença de um diagnóstico.
Como o Vygotsky, que disse:
“Todas as crianças podem aprender e se desenvolver […] As mais sérias deficiências podem ser compensadas com ensino apropriado, pois, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental”
Vygotsky
Como o Feurstein
“Todos os seres humanos são modificáveis, sem exceção: apesar de qualquer obstáculo pré concebido (condições inatas); mesmo que a pessoa tenha problemas etiológicos (Síndrome de Down, por exemplo); mesmo que tenha idade avançada; e, mesmo que tenha séria restrição ou incapacidade física e ou mental.”
Feurstein
E se isso não foi suficiente para você acreditar que todos podem aprender, podemos citar pesquisadores de neurociência e neuroplasticidade de Harvard
“O treino mental tem o poder de mudar a estrutura física do cérebro”
Alvaro Pascual-Leone – Professor de Neurologia
Todos podem aprender é um fato e a educação é o instrumento que torna isso possível.
Acreditar que todos podem aprender é um dos pilares da educação inclusiva.
Então anota aí:
MITO 1: Alguns alunos não vão aprender e estão lá só para socializar
VERDADE 1: Todos podem aprender
E se todos podem aprender, então todos podem fazer atividades, não é mesmo?
Mas nem toda atividade escolar pode ser feita por todo mundo, por isso alguns alunos podem precisar de atividades diferentes.
E isso nos leva ao segundo mito:
MITO 2: Fazer atividade diferente é exclusão
Isso é mito de uma educação inclusiva que não funciona!
Quem foi que disse que fazer atividade diferente é exclusão?
Na verdade, quem foi que disse que todo mundo precisa fazer atividade igual?
Afinal, o que é uma educação inclusiva? Educação inclusiva é entender que TODOS são diferentes!
Inclusive a própria legislação já prevê as “adaptações razoáveis”, que no universo dos materiais didáticos nada mais é do que atividades adaptadas.
Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.
§ 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.
e tem outro trecho que diz
III – projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia;
O que podemos concluir disso?
Que o aluno da educação inclusiva tem direito a atividades adaptadas sim, em todos os momentos e todas as disciplinas e negar isso é discriminação, e discriminação é crime!
Então anota aí
MITO 2: Fazer atividade diferente é exclusão
VERDADE 2: Negar adaptação é crime!
MITO 3: A Educação Inclusiva é todos aprendendo a mesma coisa!
Quem foi que disse que todos precisam aprender a mesma coisa ao mesmo tempo sempre?
Olha, o fato é que ninguém aprende a mesma coisa ao mesmo tempo. Esse é um dos princípios da educação inclusiva.
Imagine uma situação: eu, você e mais 8 pessoas entram numa sala.
Total de 10 pessoas.
Entregam para nós um livro de 100 páginas e nos deixam ler por 20 minutos.
Depois recolhem o livro e aplicam uma prova de 20 questões sobre o livro, contendo questões desde o início do livro até o final do livro.
Você acha que todas as 10 pessoas vão tirar a mesma nota nessa prova?
Eu e você vamos tirar a mesma nota?
Claro que não né?
Cada pessoa vai ter uma nota diferente, porque cada pessoa é diferente e tem uma bagagem de conhecimentos diferente.
Se entregaram um livro que eu já tinha lido antes e você não, ou um livro sobre um tema que eu tenho mais domínio e você não, eu estaria em vantagem.
E não é só isso, cada pessoa tem uma velocidade de leitura e assimilação diferente. E outras pessoas têm mais facilidade de trabalhar sob pressão, enquanto outras têm mais dificuldade.
Conseguiu se imaginar nessa situação?
Até podem dizer que foi um experimento justo, porque todos receberam o mesmo livro, todos tiveram o mesmo tempo, todos receberam a mesma prova… só que a gente sabe que isso não basta para o experimento ser justo.
E quando pensamos “O que é uma educação inclusiva?”, isso fica ainda mais evidente.
Então como trabalhar a educação inclusiva nas escolas?
Todos os alunos vão precisar de momentos individuais e momentos coletivos.
Esse é básico e um dos princípios da educação inclusiva.
E isso até acontece no dia a dia da sua sala de aula só que de maneira informal e não planejada, quando um aluno levanta a mão e faz uma pergunta e você responde a essa pergunta: esse aluno que perguntou acabou de conseguir um momento individual e isso favoreceu ele.
Agora imagine se você conseguisse planejar esses momentos individuais e coletivos com todos os seus alunos, principalmente os alunos com mais dificuldades de aprendizagem?
Agora imagine se você tivesse recursos, materiais didáticos e atividades que favorecessem esse tipo de abordagem?
Esse tipo de abordagem é prevista em lei
V – adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem em instituições de ensino;
Essas medidas individualizadas e coletivas são totalmente possíveis de serem implementadas e, acredite, irão facilitar o seu trabalho no dia a dia.
Com isso a educação inclusiva funciona. Esses momentos são realmente possíveis através das técnicas de adaptação de atividades, criar momentos individuais e coletivos para todos.
MITO 3: A Educação Inclusiva é todos aprendendo a mesma coisa!
VERDADE 3: Todos aprendem em tempos diferentes. É melhor o aluno aprender uma coisa de verdade do que 100 outras de forma superficial.
MITO 4: O aluno com deficiência aprende no tempo dele
Olha, esse é um dos piores mitos e eu chamo ele de “Inclusão de Esperança”, é colocar o aluno dentro da escola, dizer que ele está incluído e ficar esperando ele aprender no tempo dele.
É fácil falar que a educação inclusiva não funciona se só colocamos o aluno dentro da sala e esperamos ela aprender.
Gente, se o aluno não aprendeu nada nessa aula, não aprendeu nada na outra aula, passou a semana e o aluno não fez a maioria das atividades, passou o bimestre e o aluno não desenvolveu, isso é inclusão aonde?
Não vem falar que ele aprende no tempo dele, porque se ele não está aprendendo nada, é porque o ensino não está “adequadamente organizado” como disse o Vygotsky na frase lá do início do vídeo.
O aluno precisa apresentar avanços todos os dias e você deve ter instrumentos para verificar se esses avanços estão acontecendo.
Ensinar e não verificar se o aluno aprendeu não é ensino.
Ensino sem aprendizagem não é ensino.
Devemos organizar o ensino e as atividades de forma que o aluno tenha pequenos avanços todos os dias.
A resposta prática para “O que é uma educação inclusiva?” é alunos aprendendo todos os dias.
Ele vai aprender no tempo dele sim, mas deve aprender todo dia.
Se ele não estiver aprendendo todo o dia na escola, participando, fazendo atividades, então ele está excluído e exclusão é discriminação.
MITO 4: O aluno com deficiência aprende no tempo dele
VERDADE 4: O aluno com deficiência pode aprender todo dia se o ensino for apropriado.
MITO 5: alguns alunos vão precisar de ajuda e apoio para sempre
Chamo isso de presumir incompetência. Como assim incompetência?
Achar que tudo o que a pessoa não sabe fazer é definitivo.
Achar que diagnóstico é sentença.
Achar que a pessoa nunca irá conseguir fazer algo com autonomia.
Quem pensa assim não consegue trabalhar a educação inclusiva nas escolas.
Isso é presumir incompetência e quando isso acontece na escola o aluno é privado do direito de aprender autonomia.
E é função da escola e do AEE ensinar autonomia.
Da escola e de todos os seus professores porque isso consta nas competências gerais da BNCC deve estar presente em todas as disciplinas
Autonomia para se comunicar, na competência 4
4. Comunicação — Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
Autonomia para viver e planejar sua vida, na competência 6
6. Trabalho e Projeto de Vida — Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
Autonomia para tomar decisões, na competência 10
10. Responsabilidade e Cidadania — Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
E é função do AEE também ensinar autonomia, segundo o MEC:
O AEE tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. – MEC
Isso é reforçado em diversos pontos da lei brasileira de inclusão: o aluno tem direito a recursos que eliminem barreiras e permitam que ele tenha autonomia.
E quando falamos de atividades adaptadas, falamos de atividades que o aluno consegue entender, fazer e acertar sem ajuda.
Se hoje o aluno precisa de ajuda para fazer todas as atividades, então essas atividades não estão entregando autonomia.
São atividades que não estão adequadamente adaptadas para esse aluno.
O que um aluno aprende na escola se ele precisa de ajuda em todas as atividades?
Ele aprende a ser dependente. Ensinar dependência é exatamente o oposto de ensinar autonomia.
MITO 5: alguns alunos vão precisar de ajuda e apoio para sempre
VERDADE 5: é dever do AEE (e da escola) ensinar autonomia
Então para finalizar vamos à definição de educação inclusiva.
O que é uma educação inclusiva?
Educação inclusiva são todos aprendendo juntos, todos os dias, com comprovação de aprendizado, com momentos individuais e coletivos, com autonomia, com materiais e atividades acessíveis, num ambiente livre de comparações onde acreditam que todos podem aprender.
O que é necessário para uma educação inclusiva que funciona?
Acreditar que todos podem aprender, independente do diagnóstico, da idade ou do ano escolar.
Presumir competência.
Atividades adaptadas em todas as disciplinas e na sala de recursos.
Material didático acessível.
Uso de práticas baseadas em evidência no ensino e na adaptação de atividades.
Comprovação de aprendizado todos os dias.
Acesso a tecnologias assistivas (de alta ou baixa tecnologia).
Acesso à comunicação alternativa.
E tudo isso pode parecer muito coisa, mas estou aqui para te dizer que não é. Te convido a navegar por esse site e nosso canal no youtube que tem centenas de aulas gratuitas sobre todos esses temas.
Chegamos ao final do artigo e você conheceu aqui 5 mitos de uma educação inclusiva que não funciona e 5 verdades sobre a educação inclusiva realmente possível, vamos recapitular:
MITO 1: Alguns alunos não vão aprender e estão lá só para socializar
VERDADE 1: Todos podem aprender
MITO 2: Fazer atividade diferente é exclusão
VERDADE 2: Negar adaptação é crime!
MITO 3: A Educação Inclusiva é todos aprendendo a mesma coisa!
VERDADE 3: Todos aprendem em tempos diferentes. É melhor o aluno aprender uma coisa de verdade do que 100 outras de forma superficial.
MITO 4: O aluno com deficiência aprende no tempo dele
VERDADE 4: O aluno com deficiência pode aprender todo dia se o ensino for apropriado.
MITO 5: alguns alunos vão precisar de ajuda e apoio para sempre
VERDADE 5: é dever do AEE (e da escola) ensinar autonomia
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Se você tem um aluno com deficiência que está apresentando dificuldades de aprendizagem, comenta aqui o caso dele que vou ter o enorme prazer de te responder num vídeo, artigo ou nos stories lá no nosso instagram @institutoitard Segue a gente lá.
Abraços inclusivos!
vídeo maravilhoso, estou fazendo mestrado e meu tema é sobre as dificuldades de inclusão e seus vídeos suas aulas estão me abrindo todos os horizontes…
Conteúdo riquíssimo! Obrigada por compartilhar!
Excelente artigo! Fala de forma clara o que é e o que funciona na inclusão. Diferente dos costumeiros discursos enfadonhos e sem efeito, mostra a inclusão de forma prazerosa e eficaz, com recursos e ensinamentos que realmente podemos aplicar!
Na boa, se educação inclusiva funcionasse, as escolas não seria um depósito de gente. Não estudei pra ser professor de gente especial, sei lá o nome que vocês querem. O governo quer humanizar os alunos especiais e desumanizar os professores, não quero trabalhar com aluno especial, não quero ficar doente pra fingir que eu sou inclusivo.
Eu tenho uma dúvida que nunca encontro a resposta: Como adaptar um material de um conteúdo que não é compatível com a deficiência do aluno? Por exemplo, em um curso técnico preciso ensinar a usar uma ferramenta de criação de conteúdo visual, mas tenho um aluno CEGO. Se o contexto do curso todo é esse, o que ensinarei para este aluno? O que quero dizer é que muitas vezes a inclusão parece forçada, e não há material que exemplifique com um norte didático que ajude a desmistificar. Casos como o exemplificado não são esclarecidos, não aparecem exemplos para estudarmos e então dizem que é negação do professor, má vontade, falta de estudo, onde na verdade, acredito que é limitação mesmo.